Vou ser sincera: tudo o que dizem que dá sorte, eu procuro fazer. Desde bater na madeira 3 vezes até abrir a porta pros convidados saírem e voltarem a minha casa em várias ocasiões no futuro. Tenho meus talismãs na carteira, espalhados pela minha casa, em forma de tatuagem nas minhas costas e os meus santinhos também. Todos coexistem harmoniosamente.
Sempre passei o Ano Novo no Brasil de branco, com uma calcinha nova vermelha (ou branca cheia de fitinhas, uma cor pra cada desejo), tomando champanhe à meia-noite, saltando com o pé direito, depois vinham as 7 ondas, mil desejos nos primeiros segundos do novo ano e um golinho de espumante pra Iemanjá. Não tinha como ser diferente, eu não imaginava uma outra maneira de celebrar mais um capítulo da vida que não fosse assim: leve e alegre.
Mas daí eu vim morar na Espanha em 2005. O que isso significa? Que não ia rolar vestidinho branco e chinelos em um frio de quase zero graus. Mas aquele ano eu decidi ir passar o Natal na Finlândia e o ano novo na Rússia, só pra diminuir um pouco o que já soava frio. Cheguei na Rússia em trem, sozinha, fui ao hostal e, no meu quarto feminino, as meninas me deram a resenha: fecharam a rua principal e todos iam festejar caminhando por ela e terminando na árvore de Natal gigante na frente do museu Hermitage. E o melhor: eu estava convidadíssima (eu já falei que adoro hostais?).
Fomos todas bem agasalhadas pros menos 10, mas a sensação térmica era de muito mais. Compramos champanhe e cada uma fez um pedido em voz alta pro ano seguinte, e depois tomou um gole. Foi estranho e divertido, principalmente porque depois muita gente tentava puxar papo em russo e eu acabei aprendendo uma das poucas frases que sei dizer, além de spasiba (obrigado): Slobom godom (ou seja lá como se escreve Feliz Ano Novo em russo). Pobres russos, porque até hoje eu me orgulho de dizer a todos que acabo conhecendo “obrigada, Feliz Ano Novo”.
No ano seguinte passei com uma amiga brasileira no apartamento de uns colombianos, em Madrid mesmo. Aqui o costume é comer 12 uvas, uma pra cada baladada da meia-noite. Estávamos já separando as nossas uvas em um copo, pra ser mais prático, quando vimos a dona da casa em pé sobre uma cadeira tirando malas de cima do armário em plena meia noite. Perguntamos o que estava acontecendo, e ela disse que estavam se preparando pra dar a volta na quadra com uma mala. Isso traria muitas viagens no ano seguinte. Achamos curiosíssimo, emprestamos uma mala deles e fomos dar a volta a menos 5 graus Celsius. Melhor prevenir do que remediar.
A partir daquele ano, tudo na minha vida mudou. Viajei demais com essa amiga, e toda virada de ano, não importava onde estivesse, ia dar a volta na quadra e convidava a mais gente pra nossa tradição. Alguns entravam na brincadeira e outros ficavam em casa (ou na praia) por preguiça ou por não crer que a coisa funcionava mesmo!
Já dei a volta na quadra em um balneário no sul do Brasil e até encontrei mais gente fazendo o mesmo – eu não era a única louca importando costumes de outros lugares. E todos esses anos rodei essa Europa quase toda. Mas teve uma vez que não pude manter a tradição viva.
Estávamos eu e duas amigas numa festa de Ano Novo em Viena, Áustria, como sempre, separando as 12 uvas pra manter o foco do país onde vivia. Fazia uns menos 12 graus e estava tudo congelado e nevado lá fora. Éramos mais de 100 pessoas num apartamento gigante, todos membros do couchsurfing local. E eis que o dono da festa anuncia: já é meia noite, vamos colocar a valsa tradicional para que todos dancem. Meus olhos brilharam com a proposta de um novo costume local. Deixei meu copo na janela, praticamente obriguei o primeiro austríaco que vi na minha frente a dançar comigo e caí naquela valsa no meio da sala cheia, entre tanta gente dançando feliz. Era o saltar as 7 ondas deles, e eu não cabia de tanta emoção. A valsa da meia noite em Viena, nada mais certo.
Fim da valsa, fui comer as minhas uvas e abraçar minhas amigas. Toca o celular. Era minha amiga do ano novo colombiano dizendo que estava dando a volta na quadra e pensando na nossa tradição quase secreta. Ela perguntou se eu já tinha feito a minha parte. Comecei a explicar, meio sem jeito, que não…que além de fazer muito frio na rua, puseram uma valsa e eu preferi romper com nossos anos de tradição pra fazer como os austríacos e dançar a valsa da meia noite. Perguntei a ela o que isso significaria, porque estava claro que eu não ia viajar no ano seguinte. Ela disse que, quem sabe, eu iria dançar muito no ano seguinte. O que não deixava de ser má idéia porque eu adoro dançar.
Dito e feito: naquele ano me apresentaram ao tango e eu comecei a frequentar aulas em Madrid. Viajei, sim, mas dancei mais ainda. Ali ficou comprovado o que eu já sabia: a virada do ano é decisiva para tudo o que você quer fazer no ano seguinte. Podendo dar a volta na quadra usando uma camiseta branca, comer as 12 uvas saltando com o pé direito e dançar qualquer coisa à meia-noite, você garante um ano incrível. Pelo sim, pelo não… melhor se garantir 😉
Querida Suz!! Sabe que este ano eu tinha todas as intenções de dar a volta no quarteirão com a mala, como vc me ensinou, mas acabei esquecendo 🙁 Acho que foi o champagne!! Curti seu blog, querida viajante. O primeiro passo é o mais importante, o resto vem com o tempo!! Bem-vinda ao mundo dos blogueirosssss!!!
Obrigada guapa! Aqui seguindo seus passos 😉 besito
Curti muito as tradições!!! Quero aplicar a da mala, melhor garantir as viagens do ano q vem!
Oi Ana! Siimmm, nós demos a volta na quadra da praia outra vez este ano. Vestidos de branco, bem bonitinhos 😉 porque viajar é preciso, e toda a ajuda é bem-vinda, né? 😉