“Vámonos pa la feria, cariño mío”. Esse foi o primeiro contato que eu tive com a famosa festa de Sevilha, a Feria de Abril, que acontece todos os anos no mês de abril nessa importante cidade da Andaluzia, sul da Espanha. Acabava de chegar à cidade, depois de uma noite inteira no ônibus, vindo de Madrid com outras 3 amigas. E os rapazes que cantavam essa música estavam voltando pra casa, provavelmente com um rebujitos a mais na corrente sanguínea depois de uma noite de festa. Aquela era a primeira sevilhana de muitas que ouviríamos naquele fim de semana.
Como chegamos muito cedo, ficamos algum tempo perto da estação de ônibus esperando o dia amanhecer. E então a magia começou: uma a uma, foram surgindo mulheres que pareciam sair de um livro de ilustrações. Vestidos de bolinhas, cabelos arrumados em um coque, com flor e peineta, brincos, colares, xale, leque e um estilo incrível. Exatamente o que vem à nossa mente quando falamos de Espanha. Parece que tínhamos chegado à fonte de onde toda essa cultura nasceu.
A cidade para nesses dias de festa. O trânsito é desviado para outras ruas, para que o acesso ao espaço da feria fique o mais livre possível para dar passo às carruagens com seus cavalos e cavalheiros impecáveis nos seus trajes.
Nossa primeira dificuldade, ao pedir um mapa e informações sobre como funcionava aquilo, foi em entender as andaluzas. Nem minhas amigas sul-americanas, cujo idioma nativo era o castelhano, entendiam aquele sotaque. Mesmo sem ter as respostas às nossas dúvidas, fomos explorar tudo por nossa conta.
Durante o dia nos dedicamos a conhecer a linda cidade, seus parques, igrejas e, para ir entrando no clima, compramos uma flor pra colocar no cabelo. Uma amiga resolveu comprar umas castanholas, essas de turistas mesmo, e passou o dia pedindo pra alguns corajosos ensiná-la e testando os nossos ouvidos e paciência.
Já de tardezinha passamos ao enorme lugar onde acontece a festa. Mais de mil barracas, chamadas casetas, se espalham pela área. Cada uma é organizada por vários sócios que pagam pouco a pouco durante o ano para ter seu próprio espaço. São, portanto, particulares, ou seja, só dá pra entrar conhecendo alguém de lá de dentro.
Mas apesar de todo mundo torcer o nariz, há casetas públicas onde qualquer reles mortal pode entrar e se divertir igual. Foi pra lá que fomos e provamos os rebujitos (vinho branco misturado com Sprite), alguma comidinha e ficamos atônitas vendo todo mundo dançar as sevilhanas. Às vezes só entre mulheres, às vezes com homens junto e às vezes com castanholas. É o que todo mundo faz nas casetas: bebe, conversa e dança.
Mas nas ruas do recinto há também muita vida. Um vaivém de famílias apresentando aos filhos pequenos as maravilhas da sua cultura. Os namorados que vêm suas chicas vestidas de gitanas e que, ao som de palmas, cajón e canto, protagonizam verdadeiros shows de flamenco real e puro, sem holofotes nem caixas de som.
Depois de uma semana, as milhares de luzinhas se apagam e um show de fogos de artifício se despede da festança até o ano seguinte. Pra nós que não vemos isso todos os dias, é tudo muito colorido, sonoro e encantador. Tanto que ao voltar a Madrid fiz questão de me matricular em aulas de sevilhanas pra poder um dia retornar à Feria de Abril e dançar até o sol raiar. E voltar pra casa cantando “Vámonos pa la feria, cariño mío”…
A Feria de Abril de Sevilha se inicia à meia noite com o acender das milhares de luzinhas do recinto ferial e do enorme e emblemático portão principal, que tem 50 metros de altura e é diferente a cada ano. Começa no final de abril/ começo de maio e termina uma semana depois, também à meia noite, com um show de fogos de artifício e o apagamento das luzes. Mais informações sobre as datas exatas no site oficial da Feria de Abril de Sevilla.
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