Escolher um albergue no Caminho de Santiago é algo bastante pessoal. Conheço muitas pessoas que só ficam em hotéis e paradores (que são antigas fazendas, conventos ou hospitais com mais de 300 anos e que foram convertidos em hotéis de charme), em quartos individuais com banheiro dentro. São casais ou pessoas que não abrem mão da sua intimidade e não querem dividir banheiro e noites com outras 50 pessoas. Ou são pessoas mais idosas que não querem ter que se abaixar ou, pior, subir as escadinhas de um beliche. Mesmo nos albergues privados há quartos de duas até quatro pessoas, e assim você fica junto com o seu grupo, faz o Caminho de Santiago em família e se sente mais à vontade. Respeito todos esses motivos.
Mas para mim, e para a grande maioria das pessoas, a parte mais interessante dessa peregrinação é justamente a mistura que só um albergue no Caminho de Santiago pode proporcionar. Todo mundo junto no mesmo lugar tendo que se virar para torná-lo seu “lar” por aquela tarde e noite. Você acaba por conhecer outras marcas de saco de dormir e outras maneiras de lavar a sua roupa, por exemplo. Há uma troca tão rica nessas ocasiões que eu prefiro mil vezes encarar esse desafio do que ter tudo certinho no seu lugar, toalhas brancas e um banheiro impecável de limpo.
Claro que há sempre alguma desvantagem de dormir em albergues municipais ou paroquiais (e às vezes até em albergues privados). Os roubos são a pior delas. Muita gente junta é um prato cheio para os ladrões de plantão – é uma pena, mas acontece de vez em quando. Ocorreu com alguns amigos meus que, pela solidariedade de outros peregrinos, tiveram um apoio monetário para continuar no Caminho.
Já soube também de roupas levadas “por engano” do varal e inclusive botas. Vi amigos tendo que ficar um dia em alguma cidade grande para se reabastecer desses itens de roupa que são essenciais para caminhar. Tudo bem, são todos apenas bens materiais, mas te deixam um pouco triste no momento. Afinal, somos todos iguais no Caminho de Santiago, nenhum é melhor que outro por ter equipamentos mais sofisticados. No final, o esforço de cada um é único, e todos temos barreiras a superar.
Alguns lugares não têm calefação e a água às vezes não esquenta se você chega no final do dia (mas são exceções), o que deixa o seu inverno ou primavera mais frios do que o esperado. Às vezes não há cozinha. Às vezes nem te dão aquele lençol fino que protege o colchão. Às vezes há “chinches”, aqueles bichinhos que picam todo o seu corpo e é um inferno se livrar deles. Enfim, há de tudo em um albergue no Caminho de Santiago. Faz parte.
Eu tento ficar com o lado positivo de tudo e, acredite, há infinitamente mais pontos bons que ruins. A seguir listo as minhas preferências na hora de escolher um lugar pra dormir.
Como escolher um albergue no Caminho de Santiago?
Como regra geral, a minha prioridade é ficar nos albergues municipais. Um motivo é a questão econômica, já que o que você economiza aqui, poderá gastar em um café da manhã ou almoço mais pra frente. Ou até dará pra comprar os ingredientes pra cozinhar você mesmo, já que a maioria tem cozinha. Eles custam entre 5 e 6 euros.
Se o municipal está cheio, busco o albergue paroquial (em algumas cidades há os dois, em outras há um ou outro), que é o mantido pela igreja local. Geralmente o pagamento fica a seu critério, já que é por doação – e o normal é deixar o valor de um albergue municipal e até algo mais, já que eles costumam ter uma janta comunitária e até café da manhã, e os peregrinos ficam todos juntos e se conhecem melhor. A doação de hoje vai garantir todos os serviços para os peregrinos que chegam no dia seguinte, por isso ela é tão importante e nunca deve ser menos de 5 euros.
O terceiro critério que eu uso é não escolher o albergue, mas sim deixar que o albergue me escolha. Às vezes você passa na frente e gosta do ambiente, como o albergue Ave Fênix, em Villafranca del Berzo, ou o Monte Irago, em Foncebadón. Outras vezes, já no fim do dia, você é convidado a ficar ali, como o La Fuente del Peregrino, em Ligonde, se estiver sozinho ou no máximo com outra pessoa.
Outra maneira é simplesmente ficar no primeiro albergue no Caminho de Santiago que você encontrar no seu destino daquele dia. Isso acontece quando você já está cansado de andar e quer parar o mais rápido possível. Vai depender muito do seu estado físico e mental naquele momento.
Se você for em temporada alta (nos meses de julho e agosto principalmente) convém reservar algum albergue privado, hostel, pensão ou mesmo hotel. Algumas cidades têm várias placas de propaganda deles, e os guias como Eroski têm toda a lista com seus respectivos telefones. Assim você não precisará correr, já que haverá uma cama esperando por você até as 22h. Os albergues privados custam em média 10 euros.
Há também albergues com propostas diferentes, como o Albergue Verde, em Hospital de Órbigo, que tem aula de yoga no fim do dia, jantar vegetariano, café da manhã à vontade e além disso você pode ir dormir e acordar a hora que quiser. Quando soube desse, não me importei em caminhar 39 km em um dia. Foi um oásis no meu Caminho.
E se estiver calor, certos albergues privados têm até piscina! Esse é outro critério para aqueles dias de sol escaldante. Um exemplo é a cidade de Belorado. Quando estive ali fiquei no albergue Cuatro Cantones, que tem uma piscina coberta onde nos refugiamos quando começou a chover forte e ficamos ali até relaxar por completo. E foram horas…
E caso você queira matar as saudades de casa, de falar português e até comer um arroz com feijão, veja essa lista de albergues brasileiros no Caminho de Santiago e faça sua reserva para não perder a oportunidade de ser bem recebido, da maneira que só a gente sabe 😉
Albergue no Caminho de Santiago em antigos monastérios
E se depois de andar por horas na chuva ou sol escaldante, sentir seus pés latejando e pedindo socorro, você quiser dar um presente a si mesmo…que tal se hospedar em Paradores durante o seu Caminho de Santiago? Geralmente são hotéis construídos em antigos monastérios, fazendas e até hospitais com mais de 300 anos! Um dia de luxo no meio da peregrinação não faz mal a ninguém e é uma boa idéia para quem estiver fazendo o Caminho de Santiago em família ou em casal. Veja a seguir a lista de alguns paradores nas cidades por onde você vai passar ao percorrer o Caminho Francês:
- Parador de Santo Domingo de la Calzada, feito no edifício de um antigo hospital do século XII.
- Parador de Santo Domingo Bernardo de Fresneda, que fica no antigo Convento de São Francisco, em Santo Domingo de la Calzada.
- Parador de Villafranca del Bierzo, com uma piscina ao ar livre e outra coberta
- Parador de Santiago de Compostela, também conhecido por Hostal de los Reyes Católicos, localizado em um edifício do século XV, bem em frente à Catedral de Santiago
Aproveite para fazer download do guia grátis do Caminho de Santiago 🙂
Espero que tenha respondido às suas dúvidas sobre os albergues do Caminho de Santiago! Se gostou desse post, com certeza há outros que poderá gostar! Fica o convite para me seguir nas redes sociais, espero o seu like! Curta minha página no Facebook para me acompanhar no Caminho! Todas os comentários, dúvidas e sugestões são mais que bem vindos
Quanto você pretende gastar para fazer o Caminho de Santiago?
Eu fiz meu caminho em abril-maio de 2013. Na época o euro estava cotado a 3×1. Gastei, tirando as despesas de passagens de avião e trem, apenas para caminhar os 32 dias, 400 euros. O resultado disso foi R$ 12,50 euros por dia. Então fiz uma boa programação antes, dos albergues, e consegui muita providência com os amigos que fiz por lá durante aqueles dias.
Um grande abraço a todos, peregrinos e futuros peregrinos!!
Olá Edson! Já fiz o Caminho 6 vezes (alguns trechos incluídos) e não gastei mais de 20 euros ao dia. Alguns dias cheguei a gastar 6 euros. Depende dos albergues onde você fica, se faz sua própria comida dividindo os custos com outros peregrinos, etc. Eu só tomo café da manhã e janto cedo, não costumo almoçar. Isso diminui bastante os custos, Um abraço!
Olá Suzana, sou seu fã.
Adoro a sua escrita. Parece que vamos consigo.
Estou a preparar fazer o caminho pela costa, desde o Porto a Compostela mas, seguindo o seu conselho, vou evitar atravessar o Porto e Matosinhos. Qual o albergue que me aconselha a Norte de Matosinhos e antes de Vila do Conde?
Fico-lhe inteiramente grato. Bjo
Olá Olavo, muito obrigada pelos elogios 🙂 Nesse trecho você tem duas opções: o albergue Santiago de Labruge tem 2 anos e não tem beliches 😉 A outra opção é dormir mesmo em Vila do Conde, no albergue Santa Clara, que também é bem novo, ou no Mosteiro de Vairão. Você viu a lista de albergues no final desse post? https://www.thatgoodtrip.com/etapas-do-caminho-portugues-da-costa/ Na primeira etapa as pessoas geralmente dormem em Vila do Conde ou Povoa de Varzim, ou dá pra partir a primeira etapa e dormir em Labruge. Espero ter ajudado! Um abraço e Bom Caminho!
Para dar conhecimento do novo albergue em Ponte de Lima em pleno Caminho de Santiago
Facha – Ponte de Lima
Esperamos pela vossa visita
http://www.caminheiro.pt
http://www.facebook.com/albergue.ocaminheiro
Olá Rosa, obrigada pela informação! Quando passar por Ponde de Lima, farei uma visita. Obrigada! Um abraço peregrino
Oi! Tenho uma dúvida.
O interessante é ficar hospedado nas cidades maiores?
Porque eu gostaria de decidir no dia se quero parar para dormir ou se quero andar mais.
Por exemplo, no finalzinho é melhor dormir em Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis e Padrón?
Ou posso encontrar lugar para pernoitar entre essas cidades?
Obrigada!
Oi Thalita, tudo bem? As cidades que você menciona são o final da etapa do dia, proposta pelos guias de viagem mais conhecidos como Eroski, Gronze, etc. Mas nada impede de você parar antes ou seguir andando mais. A única coisa que você precisa saber é se haverá onde dormir mais pra frente e quantos quilômetros, pra poder se preparar fisica e psicologicamente, e também pra ter uma cama. No meu post sobre o Caminho Português da Costa (que se junta com o Central em Redondela) eu dou dicas de onde dormir (por exemplo, nao dormi em Caldas e sim antes, em Portas/Briallos, e não dormi em Padrón e sim em um lindo monastério em Herbón). No final no post tem uma lista de quilometragens e albergues. Dá uma olhada lá pra ver se há onde pernoitar em outros lugares, geralmente há, mas é melhor saber de antemão. https://www.thatgoodtrip.com/etapas-do-caminho-portugues-da-costa/ Bom Caminho!