Quem vai ao Carnaval de Salvador nunca volta o mesmo. O corpo pode até voltar, mas a mente fica vagando pra sempre naquelas terras de todos os santos, encantos e axé.
Minha primeira vez foi em 2004, como imprensa. Uma multidão pulava e dançava atrás de um trio elétrico. Fantasias, cantos em uníssono, abraços, beijos, felicidade à flor da pele. Eu nem entendia nada daquelas letras que misturavam as expressões locais com as palavras do Candomblé, a religião afro-brasileira que existe no Brasil todo mas é mais forte no nordeste e principalmente na Bahia. Orixás, ilê, odoiá, obaluaê, era tudo novo pra uma pessoa que cresceu no sul do país. Meus olhos brilhavam, meu coração não entendia direito toda aquela folia. E quando chovia, então? Tudo se intensificava. Berravam os versos de Chuva, Suor e Cerveja, do Caetano Veloso: “não se perca de mim, não se esqueça de mim, não desapareça, a chuva tá caindo e quando a chuva começa eu acabo de perder a cabeça”. E assim íamos embora ladeira abaixo e terminávamos a noite com novos amigos e amores de Carnaval.
E no dia seguinte tudo de novo. Circuito Barra – Ondina, circuito Campo Grande, de dia e de noite. Trio elétrico, carro de apoio, abadá, cordeiros, Filhos de Gandhi, e vamos dar a volta no trio. Empurra-empurra aqui, mas o pior é que tá gostoso mesmo. É muito vocabulário novo pra minha cabeça. Eu ia aprendendo as músicas com meus novos amigos baianos e as que tinham letras indecifráveis eu procurava na internet. Se eu quisesse ser um deles, tinha que saber tudo de cor.
Voltei no ano seguinte, em 2005, de abadá e já com a lista dos meus trios elétricos preferidos pra seguir. No mp3 player eu ouvia o melhor do Festival de Verão, que é o show prévio ao Carnaval de Salvador, onde as novas músicas são apresentadas e ficamos na expectativa pra saber qual será o hit do ano. Fiquei na casa de uma amiga, e eis que no segundo dia de Carnaval ela me deixa as chaves e diz que vai pra Imbassaí passar uns dias, e que nos veríamos na quarta-feira de cinzas. Naquele momento eu descobri que nem todos os baianos gostam do Carnaval, mas mesmo assim eles são ótimos anfitriões e não vão deixar de te dar um gostinho daquele evento multitudinário. Vai que você vicia, né?
Naquele ano eu pulei sozinha e marquei com amigos em duas ou três ocasiões, mas foi excelente de todas as maneiras. Eu dizia que tinha me perdido e rapidamente me chamavam pra fazer parte de alguns grupos, e logo eu me perdia deles e a história se repetia. O Carnaval de Salvador é como um descarrego coletivo de energias, de mágoas, de tensões e uma celebração da vida. É energia pura, é alegria em dose super concentrada. É emoção à flor da pele. É algo que todos deveriam provar nem que fosse apenas uma vez na vida. Precisa ter pique, disposição e paciência, já que você vai levar pisões, apertos e pode ser que volte com algum roxo novo pelo corpo – as feridas de guerra, como dizem alguns.
Fui mais três vezes, em 2010, 2013 e 2016, já que, morando na Europa, fica mais complicado. Se seguir essa tendência, parece que em 2019 irei de novo 😉 Já apresentei essa folia a outros amigos e conquistei mais ovelhas para o rebanho. Essa é sem dúvida a época do ano em que o meu coração fica mais apertado por não estar no Brasil. Já tive um gostinho do Carnaval do Rio de Janeiro, mas os outros grandes Carnavais do meu país estão na minha lista e espero poder conhecê-los logo. Por enquanto me resta fechar os olhos (pra não ver passar o tempo – como na música do Chiclete com Banana), curtir minha baianidade nagô (de longe) e continuar querendo que essa fantasia seja eterna…
Parabéns que legal!!! Ficou muito bom!!!
Obrigada 🙂 amanhã tem outro, fica de olho 😉
muito bom!
Ainda não fui para o carnaval, mas tenho um sonho de ir.
Obrigada! Tem que ir sim, há vários Carnavais lindos no Brasil. O de Salvador é só um deles 😉
Tem um email para entrar em contato por favor?
Olá Vanessa,
nesse link tem meus contatos: https://www.thatgoodtrip.com/contato/
Um abraço!
”O Carnaval de Salvador é como um descarrego coletivo de energias, de mágoas, de tensões e uma celebração da vida. É energia pura, é alegria em dose super concentrada. É emoção à flor da pele. É algo que todos deveriam provar nem que fosse apenas uma vez na vida.”
FORTE! Lindo, explica o que eu sinto. Sem dúvidas o melhor carnaval do mundo!!!
Que bacana que você também se identifica, Kaique! Eu acho a melhor festa do mundo inteiro, não sinto a mesma energia em outros Carnavais nem em outras festas. Salvador e esse carnaval louco atrás do trio elétrico são energia pura! Um abraço e obrigada pelo comentário 🙂
Em 2020 realizarei meu sonho de passar o carnaval em Salvador, e procurando dicas cheguei até você. O que me deixou mais ansiosa e apaixonada. E agora com vontade de te conhecer, pois irei sozinha do Rio de Janeiro. Se for por favor me inclua no seu grupo de amigos, rsrs!
Oi Debora! Você vai amar 🙂 Já faz uns anos que não vou, mas sabe que eu fui uma vez sozinha e me diverti horrores? Fiz amizade com grupos nos blocos, e vi gente sozinha fazendo o mesmo. Faz isso, é bem fácil e divertido. Eu sempre digo: não vou deixar de ir por falta de companhia. A companhia eu encontro (aos montes) lá 😉 Um abraço!!!